Graduada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade de Caxias do Sul em 1980, Tere(sa) Finger interage com esse universo desde sua infância. Aos sete anos fez seu primeiro curso na área de artes. Foi professora de dança na década de 80, de educação artística na rede estadual do RGS entre 1990 e 1997 e, no começo de 2000, lecionou voluntariamente na APAE de Flores da Cunha.
Após esse período, além de empreender na área de decoração, atua no seu ateliê desenvolvendo trabalhos para pequenas exposições da região e se dedica a aprimorar seus conhecimentos na área.
Em 2016, Tere recebeu um pedido especial: o diretor de cinema Bruno Saglia solicitou uma releitura de Gustav Klimt para o filme “Diminuta”. A tela compôs o cenário do quarto do ator Reynaldo Gianecchini.
Outro marco em sua carreira foi a participação com a obra “Finitude” na 4ª Bienal Internacional Mulheres D’Artes em Portugal.
DOLOROSA
a vida, a crença, a morte, a dor…
O caminho da dor… Muitos significados latentes ou obscuros na carga expressiva do traço e da cor na obra da artista gaúcha Tere Finger.
As dores da vida grandes ou pequenas, aqui estão. Da dor da perda, do sofrimento do irmão e da mãe, a artista, que desde a sua formação em arte desviou-se em escolhas fáceis, reencontra o sentido da arte, descobre a “via dolorosa” da sua própria existência.
Da graduação em Artes Visuais realizada nos anos 1980 à produção atual existe um hiato de mais de 30 anos. Da pintura clássica ao traço solto, desregrado e descompromissado de tendências acadêmicas surgiu uma produção genuína e característica de uma expressão por vezes, quase ingênua. Impossível enquadrar a pintura da artista num formato único.
Daquilo que veio das suas origens religiosas, da reza da mãe, da família italiana, grande e católica, a pintura ressurge na vida da artista promovendo uma catarse. Na arte, a vida já não é mais a mesma.
A dor não tem cor, mas na produção da artista, as dores vestem-se de cor, e se travestem. O luto não é preto; na cor está a realidade da vida, nas pinceladas estão a força da sobrevivência – a fé, o clamor, a aceitação. A percepção de mundo da artista não cabe numa tela e por vezes, a compulsividade transforma uma imagem original em dezenas de imagens sequenciais. As pilhas de papéis desenhados e telas pintadas que ocupam seu atelier em Flores da Cunha apresentam o conjunto de uma obra de natureza simbólica sobre as relações de família, religião, vida e morte. O cotidiano próximo da artista é sua referência criativa, construindo sua identidade artística e tornada realidade desconstruída. Os rituais e as tradições da família são revisitados pela artista e tornados signos na sua narrativa expressionista.
Dona de uma obsessividade criativa, e na percepção das dores reais surgiram os corpos desestruturados, cujas extremidades, intencionalmente, nem sempre são finalizadas. Assim, a concretude das pinceladas da artista dissipam a dor, tornando-a, por vezes, menor e quem sabe, presa, nos enquadramentos conceituais da arte.
Silvana Boone
Tere Finger, 58 anos, pinta com virulência. A dureza do traço e a pincelada veloz são como um grito de vida, apesar do olhar de seus retratos tender para a morte. São dela as obras que ilustram essa reportagem. É a expressão em tintas de uma dor interna, por vezes de angústia, que transfigura a imagem, como aqueles que não se reconhecem diante do espelho.
Gaúcha ZH (Excerto)